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quinta-feira, 15 de abril de 2021

FIGURAS DE LINGUAGEM

Quase tudo na vida é comunicação (sinais, sons, cores, símbolos, dança, escultura, literatura...), tudo contém sua própria linguagem. Mesmo o silêncio (ato de se calar) revela um modo de comunicar.

Veja mais sobre Linguagem, Língua e Fala, Elementos de Comunicação e Funções da Linguagem em:

https://eipaludo.blogspot.com/2021_03_28_archive.html

As Figuras de Linguagem (ou Figuras de Estilo) são recursos estilísticos utilizados na fala e na escrita, para dar maior ênfase à comunicação.

Alguns estudiosos preferem dividir a Estilística nos seguintes campos: Estilística Fônica (sons); Estilística Morfológica (forma); Estilística Sintática (construções frasais); Estilística Semântica (significado).        

No que se refere aos recursos linguísticos, que por intuito dar ênfase ao discurso: figuras de som (onomatopeia, aliteração, assonância, etc.); figuras de palavras (metáfora, metonímia, sinestesia, etc.); figuras de pensamento (hipérbole, eufemismo, antítese, etc.); figuras de sintaxe (silepse, anáfora, anacoluto, etc.).

Nas construções sintáticas que divergem da norma culta estão os Vícios de Linguagem: pleonasmo; redundância; ambiguidade; cacofonia; barbarismo.

Para efeito de estudo, ao considerarmos esses recursos linguísticos de acordo com suas características, optamos pela seguinte classificação:

RECURSOS LEXICAIS (etmologia e várias acepções das palavras) => Figuras de Palavras: Semelhantes às figuras de pensamento, elas também alteram o nível semântico (significado das palavras), por exemplo: comparação, metáfora, metonímia, catacrese, sinestesia e antonomásia.

RECURSOS PROSÓDICOS (pronúncia regular das palavras) => Figuras de Som: Nesse caso, as figuras estão intimamente relacionadas com a sonoridade, por exemplo: aliteração, assonância, onomatopeia e paranomásia.

RECURSOS SEMÂNTICO-PRAGMÁTICOS (mudanças sofridas pela significação das palavras de forma objetiva, direta, eficiente): A Pragmática analisa a linguagem considerando a influência do contexto comunicacional, extrapolando assim a visão da Semântica e da Sintaxe. Nessa categoria de análise, incluem-se as:

=> Figuras de Pensamento: Estas figuras de linguagem estão relacionadas ao significado (campo semântico) das palavras, por exemplo: ironia, antítese, paradoxo, eufemismo, litote, hipérbole, gradação, prosopopeia e apóstrofe.

=> Figuras de Construção ou de Sintaxe: Também chamadas de “Figuras de construção”, estão relacionadas com a estrutura gramatical da frase, as quais modificam o período, por exemplo: elipse, zeugma, hipérbato, anacoluto, anáfora, elipse, silepse, pleonasmo, assíndeto e polissíndeto.

RECURSOS LEXICAIS - FIGURAS DE PALAVRAS

COMPARAÇÃO OU SÍMILE

“O chocolate foi se transformando numa massa viscosa e amarga. Engoliu-o com esforço, COMO se fosse uma bola de papel”. Lygia Fagundes Telles. Antes do baile verde. Nova Fronteira.

Na comparação há sempre dois seres objetos ou ideias expressos, interligados por palavras comparativas (tal qual, como...) que estabelecem relações de semelhança com os termos comparados.

METÁFORA

Na metáfora existe sempre uma comparação implícita e mental, ou um elemento comum entre os termos comparados, mas sem os termos comparativos. Uma espécie de comparações abreviadas em que os termos comparativos são suprimidos. Exemplos:

“Gabriel é um gato.” (Subentende-se beleza felina.)

Como são belos os dias
Do despontar da existência!
Respira a alma inocência
COMO perfumes a flor; => COMPARAÇÃO

O mar é – lago sereno,
O céu – um manto azulado
O mundo – um sonho dourado,
A vida – um hino d’amor!  => METÁFORA
Casimiro de Abreu, “Meus Oito Anos”.  In. Antologia de Poetas Brasileiros, Logos.


Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.  => METÁFORA

Soneto de Luís Vaz de Camões (1524-1580), um dos maiores escritores portugueses de todos os tempos. 
O famoso poema foi publicado na segunda edição da obra Rimas, lançada em 1598.


Mesmo com toda a fama
Com toda a Brahma
Com toda a cama
Com toda a lama
A gente vai levando
A gente vai levando
A gente vai levando
A gente vai levando essa chama

 
Vai Levando. Caetano Veloso / Chico Buarque.
In: Adélia b. de Meneses. Desenho Mágico, Hucitec.

 

Neste exemplo, ao invés de ser mencionado o produto cerveja foi citada a marca Brahma. Trata-se de metonímia: o emprego de uma palavra por outra, baseando-se numa relação constante entre as duas.
 
Há metonímia quando se emprega:
 
- A marca pelo produto:
Fui ao supermercado comprar Omo. (Omo = sabão em pó)
 
- O autor pela obra:
Gosta muito de ler Clarice Lispector. (Clarice Lispector = livros da autora)
 
- O lugar pelos habitantes:
O Brasil exporta soja. (Brasil = brasileiros)
 
- O lugar pelo produto:
Trouxe de lembrança um panamá. (panamá = chapéu)
 
- A parte pelo todo:
Encontre cabeças de gado no Mercado Livre. (cabeças = o animal por completo)
 
- O continente pelo conteúdo:
Tomou meia taça de vinho. (taça = o vinho contido na taça)
 
- O abstrato pelo concreto:
A velhice é prudente. (velhice = velhos)
 
- O instrumento pela profissão:
Não quis ser advogado, preferiu o bisturi. (bisturi = médico)

O rei perdeu o trono. (trono = poder)


CRIANÇA DIZ CADA UMA - Mário Prata


Aninha já estava com dois anos. Loira, linda. Nunca tinha cortado o cabelo. Era amarelo-ouro e cacheado. Parecia um anjinho barroco.

Lá um dia, a mãe pega uma enorme tesoura e resolve dar um trato na cabeça da criança, pois as melenas já estavam nos ombros. Chama a menina, que chega ressabiada, olhando a cintilante tesoura.

– Mamãe vai cortar a cabelinho da Aninha.

Aninha olha para a tesoura, se apavora.

– Não quero, não quero, não quero!!!

– Não dói nada…

– Não quero, já disse.

E sai correndo. A mãe sai correndo atrás. Com a tesoura na mão. A muito custo, consegue tirar a filha que estava debaixo da cama, chorando, temendo o pior. Consola a filha. Sentam-se na cama. Dá um tempo. A menina para de chorar. Mas não tira o olho da tesoura.

– Olha, meu amor, a mamãe promete CORTAR SÓ DOIS DEDINHOS.

Aninha abre as duas mãos, já submissa, desata o choro, perguntando, olhando para a enorme tesoura e para a própria mãozinha:

– Quais deles, mãe?                               

                                                             Mário Prata (excertos). 100 crônicas, Cartaz.



CATACRESE

 
Figura de linguagem por meio da qual uma palavra é empregada com sentido alterado, em relação à sua real significação, por falta de uma palavra própria.
 
Quando dizemos “embarquei num ônibus”, por exemplo, utilizamos o termo embarcar. Ora, quem embarca supostamente deveria “embarcar num barco” e não em um ônibus, avião, carro ou trem. Como não existe um termo mais adequado, fazemos uso de um termo impróprio, como “embarquei”.
 
Trata-se, portanto, do emprego impróprio de um termo, por não existir termo mais adequado para designar ações, coisas ou qualidades.
 
São exemplos: “embarquei num trem”, “cavalguei num muar”, “sentei no braço da poltrona”, “quebrou o pé da cadeira”, “enterrou uma agulha na pele”, “asa da xícara”, “bico do bule”, “folha de papel”, “jaqueta dentária”, “cabeça de cebola”, “dente de alho” ...

PROSOPOPEIA OU PERSONIFICAÇÃO


Ocorre quando são atribuídos a animais ou seres inanimados sentimentos e atitudes próprios de seres humanos.

Encontramos exemplos na música de Barão Vermelho:

PRO DIA NASCER FELIZ
Todo dia A INSÔNIA ME CONVENCE que O CÉU
FAZ TUDO FICAR INFINITO
E que a solidão é pretensão de quem fica
Escondido fazendo fita



Também em “A Lua Me Traiu”, da artista Joelma Mendes (Álbum: Joelma 25 Anos), há um bom exemplo de Personificação. Afinal, em sentido real, não é possível a Lua trair ninguém.

 
A sinestesia acontece pela associação de sensações por órgãos de sentidos diferentes. Exemplo: 

Com AQUELES OLHOS FRIOS, disse que não gostava mais da namorada.
 
A frieza está associada ao tato e não à visão.

Ou em AQUELES DIAS DE LUZ TÃO MANSA, 

no poema a seguir:


PERÍFRASE, ANTONOMÁSIA OU CIRCUNLOCUÇÃO
 
Consiste no emprego de palavras para designar alguém, algum objeto ou lugar, por meio de seus atributos ou características marcantes.

Dica: Veja que o termo perífrase pode ser associado a perito; uma boa maneira para memorizar, pois o reconhecimento se deve a uma qualificação que mereceu destaque.
 
Um exemplo está no soneto Língua Portuguesa, de Olavo Bilac: 
“Última flor do Lácio”, que pode ser lido na íntegra em   https://www.recantodasletras.com.br/sonetos/3877105.
 
Conforme consta em https://www.todamateria.com.br/perifrase/ , além de ser usada 
na linguagem coloquial (informal), é comum a utilização da perífrase como 
recurso estilístico em textos poéticos e musicais.
 
Embora perífrase e antonomásia sejam consideradas a mesma figura de linguagem, a antonomásia trata-se de um tipo de perífrase, mas quando se refere a pessoas (nomes próprios). A perífrase também é conhecida por circunlóquio uma vez que apresenta um pensamento de modo indireto, com rodeios. Do grego, “períphrasis” significa o ato de falar em círculos.
 
Assim, são exemplos de Perífrase (ou Circunlocução):

 
- Rio de Janeiro, a “Cidade Maravilhosa”;
- São Paulo, a “Terra da Garoa”;
- Paris, a “Cidade Luz”;
- Leão, o “Rei das Selvas”;
- Camelo, o “Navio do Deserto”;
- Rio São Francisco, o “Velho Chico”;
- Brasil, o “país do carnaval e do futebol”;
- Petróleo, o “ouro negro”;
- Amazônia, o “pulmão do mundo”;
- Cascavel, a “Cidade das Águas" 
(https://capitalfm.com.br/cascavel-a-cidade-das-aguas-e-destaque-nacional/ ).
 
Exemplos de Perífrase, que podem ser classificados como Antonomásia:
 
- José Bonifácio, o “Patriarca da Independência”;
- Castro Alves, o “Poeta dos Escravos”;
- Santos Dumont, o “Pai da Aviação”;
- Bob Marley, o “Rei do Reggae”;
- Xuxa, a “Rainha dos Baixinhos”;
- Pelé, o “Rei do Futebol”.


RECURSOS PROSÓDICOS - FIGURAS DE SOM
 
ONOMATOPEIA
 
Pode ser definida como um recurso de linguagem que consiste em imitar sons e ruídos por meio de palavras.  Alguns exemplos:
- Sniff sniff: som de pessoa triste, chorando;
- Buááá: ruído de choro;
- Ratimbum: som de instrumentos musicais 
  (Ra = caixa, tim = pratos, bum = bombo);
- Aaai: grito de dor;
- Aff: som que expressa tédio e raiva;
- Piu-piu: som do passarinho;
- Tic-tac: som do relógio.



https://2.bp.blogspot.com/-exemplos-Onomatopeia.jpg (440×397) (bp.blogspot.com) 9zDSXF_SePo/WUxW8DtbgdI/AAAAAAAAAhg/mC3GbKc6kAIQfEu9qorAtpEDLaWGEDshQCLcBGAs/s1600/exemplos-Onomatopeia.jpg

ALITERAÇÃO e ASSONÂNCIA 

A aliteração consiste na repetição consecutiva de sons consonantais idênticos ou parecidos, em versos e frases. Essa repetição intencional, harmoniosa e ritmada, objetiva produzir os efeitos desejados na comunicação. Trata-se de um recurso estilístico usado principalmente para criar um ritmo continuo ao texto, além de um efeito sonoro que intensifique a mensagem transmitida. Como é possível perceber em Linha de Montagem, de Chico Buarque, onde há a repetição de fonemas em diferentes palavras. 








Linha de montagem - Letras (chicobuarque.com.br)


(85) Linha de Montagem - Chico Buarque - 1982.wmv - YouTube

Mais exemplos:

- Em Navio Negreiro, de Castro Alves: 
“A brisa do Brasil beija a balança.”

- Em Pedro Penseiro, de Chico Buarque: 
Pedro pedreiro penseiro esperando o trem / que já vem, que já vem, que já vem…”

- Nos populares trava-línguas: 
“O rato roeu a roupa do rei de Roma” ou Três tigres tristes para três pratos de trigo. Três pratos de trigo para três tigres tristes”.

- No poema Violões que Choram, de Cruz e Sousa:
"Vozes veladas, veludosas vozes,
Volúpias dos violões, vozes veladas
Vagam nos velhos vórtices velozes
Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas."

A aliteração também ocorre em textos em prosa. Observe o exemplo extraído do texto “Mundo Moderno”, escrito por Chico Anysio:

Meu monólogo mostra mentiras, mazelas, misérias, massacres, miscigenação, mortinio – maior maldade mundial. Ela ocorre logo após a abertura: Mundo moderno, marco malévolo, mesclando mentiras […]. 
E tem esta conclusão:
Merecemos. Maldito mundo moderno, mundinho.”

Com um significado semelhante ao da aliteração, a assonância consiste na repetição consecutiva da vogal tônica. A principal diferença entre a aliteração e a assonância é que a primeira está relacionada com a repetição das consoantes, enquanto que a última consiste na repetição de sons vocálicos (vogais) idênticos. Exemplos: 
 
Toda semana eu me lembro da Ana
Para mim não há semana sem Ana.
 
“Sou um mulato nato no sentido lato, mulato democrático do litoral.” 
(Sugar Cane Fields Forever, Caetano Veloso)
 
PARANOMÁSIA
 
Na construção frasal há o emprego de termos homônimos e parônimos que, apesar de apresentarem semelhanças na grafia e na sonoridade das palavras apresentam diferentes significados. Alguns exemplos:

Durante seu descanso o PEÃO jogava PIÃO com seus colegas.

Nem sempre os CAVALEIROS são bons CAVALHEIROS.

APRENDEU nas aulas por meio da APREENSÃO dos conhecimentos.


RECURSOS SEMÂNTICO-PRAGMÁTICOS - FIGURAS DE PENSAMENTO
 
EUFEMISMO OU LITOTE
 
Eufemismo consiste no emprego de palavras ou expressões mais suaves e menos impactantes, rudes ou desagradáveis, para amenizar o efeito da mensagem ao interlocutor.
 
Funcionário da limpeza pública (em vez de lixeiro)
Não conseguiu resistir / Veio a faltar (em vez de morreu)
Não é muito dado ao trabalho (em vez de é um preguiçoso)
Menor em conflito com a lei (em vez de infrator, delinquente)
Pessoas com necessidades especiais (em vez de deficientes)
Garota de programa (em vez de prostituta)
Faltou com a verdade (em vez de dizer que foi mentiroso)
Pegou emprestado por engano (em vez de roubou)
Se apropriou de maneira ilícita (em vez de roubou)
Funcionária do lar (em vez de empregada ou doméstica)
Foi convidado a se retirar (em vez de foi expulso)
Fazer suas necessidades (em vez de urinar ou defecar)
Uma pessoa bastante vivida / experiente (em vez de velha)
Produtora de biografias orais não autorizadas (em vez de fofoqueira)

Litote assemelha-se ao Eufemismo: uma forma de suavizar uma ideia.
 
Não é que sejam más companhias. => Apesar de não serem más, também não são boas.
 
  
ANTÍTESE (CONTRASTE) e PARADOXO
 
“Não haveria SOM se não houvesse o SILÊNCIO”. (Lulu Santos)
 
A antítese consiste no emprego de palavras ou ideias em sentido contrário. 
Exemplos:
 
A relação entre eles era de AMOR e ÓDIO.
Café, só muito DOCE, pois a vida já é muito AMARGA.
Durma MENOS e viva MAIS.
Ele não ODEIA, AMA; não CHORA, RI.
 
No paradoxo, as ideias aparentam ser contraditórias, mas podem ter explicação que transcende os limites da expressão verbal (opinião contrária ao senso comum, mas que pode conter verdade). São ideias aparentemente contraditórias, mas que, no contexto, não constituem um contrassenso. Exemplos:
 
Curto minha solidão no meio da multidão.
Enquanto descansa, carrega pedras.
“As árvores estavam carregadas, o mundo era tão rico que apodrecia”. (Clarice Lispector)
“O único meio positivo de conversar com as plantas é compreender-lhes o silêncio”. 
(Drummond)
 
Também percebemos exemplos desse recurso linguístico para além da antítese nos paradoxos presentes no soneto de Luís Vaz de Camões (1524-1580), um dos maiores escritores portugueses de todos os tempos. Por meio da aproximação dos opostos, o poeta nos traz uma série de afirmações sobre o amor que parecem contraditórias, mas que são inerentes à própria natureza do sentimento amoroso. Observe-se um trecho:
 
Amor é fogo que ARDE SEM SE VER,
é ferida que DÓI E NÃO SE SENTE;
é um CONTENTAMENTO DESCONTENTE;
é DOR QUE DESATINA SEM DOER.
 
A música Monte Castelo, de Legião Urbana, contempla o poema de Camões.

IRONIA
 
Recurso de linguagem que consiste em dizer o contrário do que pensamos, geralmente em tom de zombaria. Para a compreensão, depende do contexto, da expressão, dos gestos, do tom de voz. Na literatura, significa a arte de zombar de alguém ou de alguma coisa, com o intuito de obter uma reação do interlocutor.
 
Mas como você é pontual. Eu lhe espero há duas horas.
Sempre tão delicada, derruba tudo o que encontra pelo caminho.
Com essa rapidez chegaremos no final do evento.
Trabalha bem. Quem contrata seus serviços não o chama outra vez.
Tão inteligente que conseguiu tirar zero na prova.
Cozinha tão bem que nem o cachorro come.
É tão responsável que só lembra de pagar as contas após o vencimento.
 
Embora sejam termos empregados como sinônimos, ironia e sarcasmo possuem suas peculiaridades. Ambos estão intimamente ligados, entretanto, diferem na INTENÇÃO estabelecida pelo autor da mensagem. Outro termo relacionado é o deboche, utilizado no discurso com o objetivo de menosprezar ou constranger o receptor / interlocutor.
 

Sarcasmo e ironia são dois termos provenientes da língua grega. A palavra sarcasmo (sarkasmós) significa zombaria, escárnio; enquanto a palavra ironia (euroneia) significa dissimular, fingir. 


https://www.todamateria.com.br/sarcasmo-e-ironia/

Assim define o escritor Gabito Nunes:

“Quando uso o humor como escudo, é ironia. Quando uso o humor como arma, é sarcasmo.”

 

HIPÉRBOLE


Hipérbole ou Auxese é um recurso muito utilizado na linguagem cotidiana e expressa alguma ideia exagerada ou intensificada de algo ou alguém. É o contrário de Metonímia.



















APÓSTROFE

Consiste na interpelação a alguém em meio ao discurso, 
como neste excerto de Castro Alves:
 
Ó espíritos errantes sobre a terra!
Ó velas enfunadas sobre os mares!
Vós bem sabeis quanto sois efêmeros.

GRADAÇÃO
 
Ocorre quando a apresentação de ideias acontece numa escala de graus de significação, que tanto pode ser ascendente como descendente. Exemplos:
 
A mulher mal se apresentou e começou a CHORAR, a GRITAR, a BERRAR, sem que pudéssemos compreender o porquê.
 
“Até o que é belo me pesa nos ombros, até a poesia ACIMA DO MUNDO, ACIMA DO TEMPO, ACIMA DA VIDA, me esmaga na terra, me prende nas coisas.” (Jorge de Lima)
 
“Porque gado a gente MARCA,
TANGE, FERRA, ENGORDA E MATA,
mas com gente é diferente.”

 
Disparada. Geraldo Vandré e Theo de Barros, por Jair Rodrigues.
 
Quando as qualidades de um ser são enumeradas de modo que elas vão se ampliando e somando, esse recurso linguístico também recebe o nome de e AMPLIFICAÇÃO.
 
“A vida é o dia de hoje,
 A vida é o mal que soa,
 A vida é sombra que foge,
 A vida é nuvem que voa.” (João de Deus)


RECURSOS SEMÂNTICO-PRAGMÁTICOS 

- FIGURAS DE SINTAXE OU CONSTRUÇÃO

De acordo com informações contidas nas páginas virtuais www.portugues.com.br, mundoeducacao.uol.com.br, brasilescola.uol.com.br e www.todamateria.com.br, as figuras de construção, ou de sintaxe, são recursos estilísticos que ocorrem quando são feitas alterações (inversões, omissões e repetições) intencionais nas estruturas sintáticas dos enunciados, com objetivo de atribuir maior expressividade e, assim, ampliar a produção de sentidos.

PLEONASMO

Diferente do pleonasmo vicioso (um vício de linguagem), o pleonasmo (literário) é um recurso linguístico que consiste na repetição de termos ou ideias a fim de dar mais realce à comunicação, tornando-a mais expressiva.

A noite escura da Amazônia. 

(Note que a noite já pressupõe escuridão.)

 

“Todo dia ela faz tudo sempre igual

Me sacode às seis horas da manhã

Me sorri um sorriso pontual

E me beija com a boca de hortelã (...)”.

(Cotidiano – Chico Buarque)

“De jeito maneira, não quero dinheiro.” (Tim Maia) 

“Todos nus, e da cor da treva escura.” (Camões)

Vi, adoravelmente visto, o rostinho do bebê.

 

Viva a sua vida.

 

ANTECIPAÇÃO OU PROLEPSE

Consiste no emprego de um termo que se encontra fora do lugar que gramaticalmente lhe foi convencionado. Em narrativas, a prolepse pode surgir para antecipar um fato da história que, cronologicamente, só acontecerá depois. Observe o exemplo de antecipação em um fragmento do livro Levantando do chão, de José Saramago:

“[...] Manoel Espada teve de ir guardar porcos e nessa vida pastoril se encontrou com Antônio Mau-Tempo, de quem mais tarde, em chegando o tempo próprio, virá a ser cunhado.[...]” (José Saramago - Levantado do Chão)

POLISSÍNDETO

Trata-se da coordenação de vários termos da oração, quando os conectivos coordenativos são repetidos de forma proposital, sobretudo por meio das conjunções aditivas ‘e', 'nem', 'mas'. Exemplos:


Trabalha e teima, e lima, e sofre, e sua!”


Sabe que é difícil ser aprovado, mas tenta, mas estuda, mas vá em frente.


Mariana, aos doze anos, cantava e gritava e dançava e pulava e era só festa!


ASSÍNDETO

Ao contrário do polissíndeto, o assíndeto caracteriza-se pela ausência das conjunções coordenadas, com o objetivo de tornar a mensagem mais precisa e adequada. Exemplos:

“Vim, vi, venci.” (Júlio César)

Hoje choveu, nevou, fez sol, nublou, armou, abriu.

Tens moradia, tens alimento, tens roupa lavada, tens roupa passada, tens amor.



ELIPSE

 

Tal figura ocorre quando uma palavra (ou uma oração inteira) é omitida de um texto, mas pode ser demonstrada ou identificada pelo contexto. Classifica-se em: Nominal: quando uma palavra é omitida; Verbal: quando um verbo é omitido; Frástica: quando uma frase é omitida.

No exemplo que segue, notamos que em todos os versos há a omissão do verbo estar, sendo este facilmente identificado pelo contexto.

Rondó dos cavalinhos
[...]

Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
O Brasil politicando,
Nossa! A poesia morrendo...
O sol tão claro lá fora,
O sol tão claro, Esmeralda,
E em minhalma — anoitecendo!

                                     Manuel Bandeira

 

Observe outro exemplo de elipse na música de Edu Lobo:

 

(...) Onde a minha namorada...
Vai e diz a ela as minhas penas e que eu peço

Peço apenas
Que ela lembre as nossas horas de poesia (...)”.

(Canto triste – Edu Lobo) 

 

No trecho Onde a minha namorada”, o verbo estar ou andar está subentendido. Vale lembrar que há um caso específico de elipse, conhecido como zeugma, em que há uma omissão de um termo já citado na frase.

 

ZEUGMA

É uma forma particular de elipse, na zeugma ocorre a omissão de um termo já mencionado no discurso. Exemplos:

Maria gosta de Matemática, eu de Português. (Houve a omissão do verbo gostar.)

A uns foi permitido estudar, a outros, fazerem o trabalho. (Omissão de “foi permitido”.)

Mariana gosta de sorvete; eu, de chocolate meio amargo.

No escritório de Joana, só há equipamentos antigos; no meu, só modernos.

No céu, há estrelas; na Terra, brigadeiro.


ANÁFORA

Essa figura de linguagem se caracteriza pela repetição intencional de uma ou mais palavras no início de um período, frase ou verso, o que cria um efeito de reforço e de coerência ao texto. Os termos anafóricos podem, muitas vezes, ser substituídos por pronomes relativos. Exemplos:

Se eu amasse, se eu chorasse, se eu perdoasse. (A repetição do termo “se” enfatiza a condicionalidade que o emissor do discurso quer propor).

A Estrela


Vi uma estrela tão alta,
Vi uma estrela tão fria!
Vi uma estrela luzindo
Na minha vida vazia.

Era uma estrela tão alta!
Era uma estrela tão fria!
Era uma estrela sozinha
Luzindo no fim do dia.
[...]

                            Manuel Bandeira

 

ANACOLUTO

Trata-se da quebra da estrutura gramatical de uma sentença. Ou seja, uma expressão que deixa o termo inicial desconectado do resto do período. A forma mais simples é quando um elemento parece que vai se tornar o sujeito da oração, mas na verdade não tem função de sintaxe. É mais comum na fala que na escrita.

 

O anacoluto, contudo, deve ser usado com finalidade expressiva em casos muito especiais. Em geral, a menos que seja uma (des)construção sintática intencional, devemos evitá-lo e criar melhores condições para que nossos interlocutores nos compreendam no momento da interação verbal.


“O marizeiro que ficava embaixo, a correnteza corria por cima dele."

(José Lins do Rego)

Dos funcionários da lavanderia, não se pode duvidar.

Os jovens de hoje, parece que não dá para confiar neles.

O Rodrigo, parece que as coisas não lhe correm bem.


HIPÉRBATO, SÍNQUISE (OU INVERSÃO)

Caracteriza-se pela inversão da ordem direta dos termos da oração. 

São exemplos:

 

É como brisa o amor. (Na ordem direta seria: O amor é como brisa.)

 

Dos meus assuntos cuido eu! (Na ordem direta seria: Eu cuido dos meus assuntos.)

 

Eufórico chegou o menino. (O predicativo do sujeito se encontra no início da oração, quando este deveria estar expresso no final: O menino chegou eufórico.)

 

Triste estava Manuela. (Neste caso, o estado do sujeito surge antes do nome “Manuela”, que na construção sintática usual seria: Manuela estava triste).

 

Alguns hipérbatos provocam inversões tão acentuadas na estrutura sintática dos períodos que provocam ambiguidades e comprometem a compreensão do que está sendo falado ou escrito. Quando isso ocorre, tem-se a SÍNQUISE.

 

“Vago senta sobre e se se um lugar dito precipita, isto.” 

(Raymond Queneau)


SILEPSE

Ocorre quando a concordância nominal ou verbal não se relaciona com um termo específico e sim com a ideia geral contida dela.

Essa concordância estilística classifica-se em:


- Silepse de Gênero - Quando ocorre discordância entre os gêneros (feminino e masculino). Exemplos: São Paulo é suja. / A bela Rio Branco sofreu com o frio intenso. / Vossa Excelência está muito abalado.


- Silepse de Número - Quando ocorre discordância entre o singular e o plural. Exemplos: Um bando (singular) de mulheres (plural) gritavam assustadas. / O pelotão saiu. Caminharam em sentido ao batalhão. / Como está indo a classe? Estão bem?


- Silepse de Pessoa - Quando ocorre discordância entre o sujeito, que aparece na terceira pessoa, e o verbo, que surge na primeira pessoa do plural. Exemplos: Todos os atletas (terceira pessoa) estamos (primeira pessoa do plural) preparados para o jogo. / Bom é que os quatro queremos casar na mesma data.


https://www.youtube.com/watch?v=1Ji48IQkIxQ


Após ouvir a Música "Pulei na Piscina", por Guilherme e Benuto, você consegue identificar quais são as figuras de linguagem nos seguintes versos?



“Pulei na piscina tão desesperado 

Que quando eu caí FOI MÁGOA PRA TODO LADO!”

“Pra ver se esse AMOR MORRE AFOGADO!”

 

Veja que na primeira situação há uma troca; ao invés de ÁGUA, foi MÁGOA pra todo lado. Trata-se, portanto, de Metonímia.

 

Na segunda situação, seria possível em sentido real o AMOR morrer afogado? A Figura de Linguagem em que são atribuídos a animais ou seres inanimados sentimentos e atitudes próprios de pessoas é: Personificação (ou Prosopopeia).

 


VÍCIOS DE LINGUAGEM

 

São desvios das normas da língua culta que ocorrem por desconhecimento dessas normas ou por descuido do emissor.

 

ECO - ocorre quando há palavras na frase com terminações iguais ou semelhantes, provocando dissonância.

Falar em desenvolvimento é pensar em alimento, saúde e educação, mas houve momento em que desenvolvimento era construir quilométricas estradas amazônicas faraônicas.

Estávamos conscientes de que impacientes não conseguiríamos ser convincentes.

Ele achava, desde a mocidade, que era preciso valorizar a maturidade.

 

HIATO - ocorre quando há uma sequência de vogais, provocando dissonância.

Eu o ouvirei amanhã. / Ou eu ou outro faz o serviço. / Eu ouço o amigo.

 

COLISÃO - ocorre quando há dissonância provocada pela repetição de iguais ou semelhantes (em consoantes). 

Minha mãe me mandou mudar a malha. 

Sua saia saiu suja da máquina. 

O pião parou próximo à porta.

 

AMBIGUIDADE OU ANFIBOLOGIA - ocorre quando, por falta de clareza, há uma duplicidade do sentido da frase.

O cachorro do seu irmão avançou sobre o amigo.

O pai chamou a atenção do filho porque bateu o seu carro.

Quero meias para senhoras claras.

Tem bico pra nenê de borracha?

Tem sutiã pra mulher de silicone?

Tem meia pra mulher fina?

 

SOLECISMO - ocorre quando há desvios de sintaxe quanto à concordância, regência ou colocação.


Faltou muitos alunos no dia do jogo da Seleção do Brasil.

(faltaram) — concordância


Eu assisti o programa em que foi denunciado o desmatamento da Amazônia.

(ao) regência


No sábado ele bebeu tanto que não sustentava-se em pé.

(se sustentava) colocação


Na pronúncia

Assisti ao pograma educativo. (programa)

Pedi a sua rúbrica. (rubrica)

Nesse interim eles chegaram. (ínterim)


Na grafia

Ele  pesquisou a etmologia de muitas palavras. (etimologia)

Nós advinhamos o resultado do jogo. (adivinhamos)

“É certamente a mais maior em tamanho.” (maior)

 

BARBARISMO - é o desvio da norma quando ocorre nos seguintes níveis:


Na semântica

Assim que chegaram à metrópole, absolveram a poluição. 

(absorveram)

Ele comprimentou o amigo. (cumprimentou)

O aluno soou muito durante a prova. (suou)


Nos estrangeirismos

O embaixador cometeu uma gafe

(equívoco=galicismo=francesismo)

O show foi cancelado. (espetáculo = anglicismo)

O escritor chegou justo na hora. (bem na hora = italianismo)

 

CACÓFATO – é o som desagradável provocado pela junção de duas ou mais palavras na cadeia da frase. Exemplos:


Na boca dela estava a marca da agressão que sofrera.

Vou-me já, porque a aula vai começar.

Má mão a sua, o bolo sempre fica encruado.

Café passado no coador é mais forte.

Se eu cozinho, eu não lavo a louça.

Vamos, então? Ou vamos ir já?

Meu amor por ti gela... Meus olhos por ti são...

 

PLEONASMO VICIOSO – é a repetição desnecessária de uma informação.


Ele é um bom ator. Na última peça, ele fez um monólogo falando sozinho. (monólogo: cena em que um só ator representa ou interpreta)


O acontecimento mais importante no capítulo de hoje é que o principal protagonista rebelou-se contra o pai. (protagonista: personagem principal)


O orvalho noturno da noite brilhava nas pequenas flores.


Assista e confira exemplos de pleonasmo vicioso, tautologia ou duplo sentido, no vídeo de Leandro Hassun e Marcius Melhem: