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terça-feira, 17 de abril de 2012

Canção do Exílio - Gonçalves Dias

Nesta página do blog, darei início a estudos de obras para o vestibular da Unioeste.
Por enquanto, você encontra algo sobre

"Canção do Exílio" de Gonçalves Dias

O poema foi escrito em 1843. Nele, o autor exalta a natureza brasileira.


Dentre as obras de protesto que surgiram na época da ditadura, destacou-se a letra de “Sabiá” em que  se  pode perceber a existência de um  protesto implícito e quase imperceptível. Observe o vídeo abaixo:



Certamente, Chico Buarque se inspirou em Gonçalves Dias para escrevê-la e, logo após, foi exilado do país. Gonçalves Dias, em exílio voluntário e estudantil, cantou a saudade que sentia do Brasil e o Chico, no Brasil da ditadura, cantou a saudade que tinha do Brasil democrático e livre da tirania militar. Geraldo Vandré - autor de "Pra não dizer que não falei das flores"- vigiado de perto pelos militares, não mais pôde expressar o retrato do Brasil.

O disco que traz a música Construção foi composto enquanto Chico Buarque vivia fora do Brasil por causa da ditadura militar. De volta ao país, ele chegou pronto para lançar um dos trabalhos mais críticos e conceituais de toda sua história.



Versos do poema que se fazem presentes no Hino Nacional Brasileiro:
Do que a terra mais garrida / Teus risonhos, lindos campos têm mais flores,
"Nossos bosques têm mais vida", "Nossa vida" no teu seio "mais amores"

E  hoje?  Veja  uma  postagem  do  blog  Pizzaria  do  Poder. Disponível em:


"Continuamos a ignorar nossas belezas naturais, relaxando em sua conservação e deixando de usufruir o que elas dão de melhor. Triste é o país cuja população ignora as suas belezas naturais típicas, ainda mais com uma fartura de beleza e diversidade que só existe em nosso país".       
            
Vários autores fizeram PARÓDIA de "Canção do Exílio"

Casimiro de Abreu, romântico como Gonçalves Dias, cheio de  saudades  de  sua  infância  e terra natal, ecoou, na contemporaneidade:
Se eu tenho de morrer na flor dos anos, Meu Deus! Não seja já:
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
Cantar o sabiá!

 
Ou ainda, em outro poema, em que o sabiá, que lá em Gonçalves Dias cantava nas palmeiras, e já havia mudado para a laranjeira, agora se encontra aqui, mais genericamente, em seus retiros:
Eu nasci além dos mares:
os meus lares,
Meus amores ficam lá!
- onde canta nos retiros
Seus suspiros
o sabiá.

 
Mas nem só românticos, poetas ou jovens que batalharam em defesa de uma causa, recitaram os versos nacionalistas. Sua fortuna crítica seguiu em rota de sucesso passando por modernos e modernistas que não a deixaram cair no esquecimento, num ritual de renovação constante e de vitalidade perene.
Cassiano Ricardo demonstra um sentimento adulto e algo conceitual de saudade ao referenciar a obra:
Esta saudade que fere
mais do que as outras quiçá,
Sem exílio nem palmeira
onde cante um sabiá...


Drummond entrega-se em afeto de homenagem e envolvimento:
Meus olhos brasileiros se fecham saudosos Minha boca procura a 'Canção do Exílio'. Como era mesmo a 'Canção do Exílio'? Eu tão esquecido de minha terra... Ai terra que tem palmeiras onde canta o sabiá!

Oswald de Andrade troca palmeiras por Palmares e o movimento da volta tem a cadência contrária das marcas futuristas do progresso de São Paulo ao cantar o regresso à pátria:
Minha terra tem Palmares
onde gorjeia o mar
os passarinhos daqui
não cantam como os de lá
Minha terra tem mais rosas
E quase que mais amores
minha terra tem mais ouro
minha terra tem mais terra
Quero terra amor e rosas
Eu quero tudo de lá
Não permita Deus que eu morra sem que volte para lá
Não permita Deus que eu morra sem que volte para São Paulo
sem que veja a rua 15
E o progresso de São Paulo
 
 
Murilo Mendes descreve o cotidiano num esquema nostálgico e o efeito poético de distanciamento do modelo. Obtém a reverência (irônica) à matriz da saudade nacional:
Minha terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam gaturamos de Veneza
Eu morro sufocado
em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia.
Ai quem me dera chupar uma carambola
de verdade
e ouvir um sabiá com certidão
de idade!
 
 
Jô Soares, humorista, não resistiu à melodia da canção e, virando-a pelo avesso, encheu a sua resistente ossatura com a carne generosa de uma política de regalias e privilégios:
Minha Dinda tem
cascatas
onde canta o curió.
Não permita Deus que
eu tenha
de voltar pra Maceió.
Minha Dinda tem
coqueiros
da ilha de Marajó.
As aves, aqui,
gorjeiam
não fazem cocoricó.
 
 
José Paulo Paes, num estilo de sintetismo anti-discursivo das vanguardas modernistas, fez da canção o resumo, em pílula, facilitando-lhe o instantâneo e despojando-a de acessórios:

Lá?
Ah!
Sabiá...
Papá...
Maná...
Sofá...
Sinhá...
Cá?
Bah!


 
Caulos, outro humorista, também dos bons, fez o sabiá migrar dos versos saudosistas para a denúncia ecológica, no grafismo leve e tocante do exílio de sua própria palmeira:


E é essa palmeira, que já não há, que ressuscita em uma das mais lindas canções da música popular brasileira, de Tom Jobim e Chico Buarque, trocando agora o sabiá histórico pela sabiá amada:
Vou voltar, sei que ainda
Vou, vou voltar para o meu lugar
Foi lá e ainda é lá
Que eu hei de ouvir cantar
Uma sabiá
Cantar, uma sabiá.



E, como diz Clarice Lispector, "o outro do outro sou eu". Exílio!

Vários estudiosos, cada um à sua maneira, escreveram sua própria
"canção do exílio".
Desafiei meus alunos a também fazerem sua paródia.
Parabenizo os mesmos, pois várias das composições foram muito bem elaboradas,
dentre as quais, destaco  a  produção  a  seguir (autorizada para a postagem no blog):
A Nova Canção do Exílio
                     
Eline Mayumi Grossklaus

Minha Terra tem matanças
E haviam sabiás...
Das aves que aqui habitam
Já não ouço o gorjear.



Nosso ar não é tão puro,
Nossas flores se enfraquecem.
Poucos bosques, pouca vida...
Onde, um dia, houve o amor.



Ao olhar o céu à noite,
Já não tenho mais prazer:

Minha terra tem matanças
E haviam sabiás!”



Minha terra tem violência.
Segurança? Pouco há...
Minha casa é meu abrigo
Onde paro pra pensar:
Minha terra tem matanças,
Roubos, abusos, corruptos...


Não permita Deus que eu morra
Sem ver isso terminar...

Quero minha paz de volta
E segurança no meu lar.
Um dia, habitará nos corações
O amor que só em Deus há...



A Verdadeira Face do Brasil
Thamarys de Almeida Severiano


Minha terra tem poluição,
Onde não se vê o sabiá.
Várias indústrias que aqui estão
Poluem o nosso ar.

Já não se vê mais as estrelas.
Nossas várzeas estão cheias de lixo.
Nossos bosques, abandonados.
Nossas vidas, com corruptos.

Em cismar sozinha à noite
Desprazeres encontro eu cá
Em minha terra tem corruptos
E o dinheiro fala mais alto.

Minha terra tem pobrezas muitas
Que tais sempre encontro eu cá
Em cismar sozinha à noite:
“Que prazer há em roubar?”
Em minha terra tem ladrões
E votamos pra continuar...

Não permita Deus que eu morra,
Sem que o médico atenda...
Sem que eu também desfrute
Do que os impostos podem proporcionar.
Sem que, antes, aproveite do dinheiro
Que, com certeza, irão pegar.
E veja tudo isso mudar...

Sozinha à noite
Larissa Fantim Machado


Minha terra tem impostos
Que não vejo aproveitar
Aqueles que usufruem
Deixam-nos a desejar

Nosso dinheiro já não sobra
Nosso trabalho é dobrado
Nosso cansaço aumentado
E nossa alegria destruída

Em cismar, sozinha, à noite
Mais sufoco em meu pensar
Preciso achar serviços extras
Pra mais impostos pagar

Minha terra tem roubos
E quem começa a roubar
Ao cismar, sozinha, à noite
Mais tristeza me dá
Minha terra também tem
Quem me rouba pra se drogar

Não vou me permitir morrer
Sem que eu faça algo pra mudar
Nem que eu mude os meus conceitos
E os políticos em quem vou votar
Creio que, ao mudar os meus votos,
Outra vida haverá !!!


Meu carro e seus primores
Vanderlei Souza Luciano


O meu carro é uma caieira
E não quer ligar...
As ferrugens que o consomem
Não tenho como consertar.

Vosso carro é tão bonito,
Vosso motor tem mais potência,
Vosso carro tem mais cor,
Vosso estilo... mais primores.

A empurrar sozinho à noite,
Mais desespero sinto eu cá.
O meu carro é uma caieira
Que não quer ligar...

Vosso carro tem primores!
E o meu não quer ligar...
A empurrar sozinho à noite,
Sem ter com quem contar...
O meu carro é uma caieira
Que não consegue funcionar.

Não permita Deus que eu morra,
Antes que este carro eu possa trocar
E que os primores de um carro novo
Eu possa desfrutar...
Sem que desta caieira
Eu possa me livrar.

               Gostou?  Comente.

9 comentários:

  1. Parabéns pela iniciativa de complementar os estudos de seus alunos pelo blog. Nos dias atuais, aliar-se às opções tecnológicas pode ser uma boa maneira de conseguir despertar o gosto pelo saber. Suas postagens saõ bem elaboradas e, pelo que percebi, o blog terá muito a contribuir com a questão do conhecimento de qualidade. Já salvei nos favoritos e vou acessá-lo sempre. Um abraço!

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  2. Gostei dos poemas. Parabéns aos autores.
    Mais um pouco estarão escrevendo livros
    com as críticas sociais feitas em bom estilo.

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  3. po na minha sala so tem poetas,vamos fazer um livro,kkkkkkkkk

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  4. Boooooa, 2ºF
    Ficoou bem legau mesmo, pena que nao tenho tanta
    criatividade kkkkk
    mais parabeens meus colegas :)

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  5. Nossa, que bacanas e criativos esses alunos!

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  6. So artistas , meu rsssssssssssssss
    Legal

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  7. Criticidade incrível! O último poema foi bem cômico, mas interessante também. Parabéns por direcionarem olhares diferentes a situações aparentemente comuns! Educação comprometida com mudanças sociais passa pelo despertar de consciências adormecidas, pelo alerta a fatos do cotidiano que não causam mais impacto porque muitos se assujeitam a perceber determinadas situações como se estivesse tudo bem e tudo devesse ser assim mesmo. Que pena! Nesses poemas foi possível perceber indignação e capacidade de ir além. Bom, pois precisamos de pessoas menos corruptas e mais comprometidas socialmente à frente das decisões num futuro próximo.

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  8. Disse tudo em "A verdadeira face do Brasil" (última estrofe), os impostos que supostamente são investidos em educação, saúde etc. Vivemos num período de pandemia e se na saúde não tem vacina suficiente, se na educação os alunos e professores têm que se equipar com seus próprios recursos, sem ajuda alguma, onde estão esses investimentos tão propagados na mídia??? Para pensar...

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