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"Canção do Exílio" de Gonçalves Dias
Fonte:
Portal do Professor => http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=8293
Dentre as obras de protesto que surgiram na época
da ditadura, destacou-se a
letra de “Sabiá” em que se pode perceber a existência de um protesto implícito e quase imperceptível. Observe o vídeo abaixo:
Certamente, Chico Buarque se inspirou em Gonçalves Dias para escrevê-la e, logo após, foi exilado do país. Gonçalves Dias, em exílio voluntário e estudantil, cantou a saudade que sentia do Brasil e o Chico, no Brasil da ditadura, cantou a saudade que tinha do Brasil democrático e livre da tirania militar. Geraldo Vandré - autor de "Pra não dizer que não falei das flores"- vigiado de perto pelos militares, não mais pôde expressar o retrato do Brasil.
Vídeo disponível em: https://www.letras.mus.br/geraldo-vandre/46168/
O disco que traz a música Construção foi composto enquanto Chico Buarque vivia fora do Brasil por causa da ditadura militar. De volta ao país, ele chegou pronto para lançar um dos trabalhos mais críticos e conceituais de toda sua história.
Versos do poema que se fazem presentes no Hino Nacional Brasileiro:
Do que a
terra mais garrida / Teus risonhos, lindos campos têm mais
flores,
"Nossos bosques têm mais vida", "Nossa vida"
no teu seio "mais amores"
E hoje? Veja uma postagem do blog Pizzaria do Poder. Disponível em:
"Continuamos a ignorar nossas belezas naturais, relaxando em sua conservação e deixando de usufruir o que elas dão de melhor. Triste é o país cuja população ignora as suas belezas naturais típicas, ainda mais com uma fartura de beleza e diversidade que só existe em nosso país".
Vários autores fizeram PARÓDIA de "Canção do Exílio"
Casimiro de Abreu, romântico como Gonçalves
Dias, cheio de saudades de sua infância e terra natal, ecoou, na contemporaneidade:
Se
eu tenho de morrer na flor dos anos, Meu Deus! Não seja já:
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde, Cantar o sabiá! |
Ou
ainda, em outro poema, em que o sabiá, que lá em Gonçalves Dias
cantava nas palmeiras, e já havia mudado para a laranjeira, agora se
encontra aqui, mais genericamente, em seus retiros:
Eu
nasci além dos mares:
os meus lares, Meus amores ficam lá! - onde canta nos retiros Seus suspiros o sabiá. |
Mas
nem só românticos, poetas ou jovens que batalharam em defesa de uma causa, recitaram os versos
nacionalistas. Sua fortuna crítica seguiu em rota de sucesso passando por modernos
e modernistas que não a deixaram cair no esquecimento,
num ritual de renovação constante e de vitalidade perene.
Cassiano
Ricardo demonstra um sentimento adulto e algo conceitual de
saudade ao referenciar a obra:
Esta
saudade que fere
mais do que as outras quiçá, Sem exílio nem palmeira onde cante um sabiá... |
Drummond entrega-se em afeto de homenagem e envolvimento:
Meus
olhos brasileiros se fecham saudosos Minha boca procura a 'Canção
do Exílio'. Como era mesmo a 'Canção do Exílio'? Eu tão
esquecido de minha terra... Ai terra que tem palmeiras onde canta
o sabiá!
|
Oswald
de Andrade troca palmeiras por
Palmares e o movimento da volta tem a cadência contrária das
marcas futuristas do progresso de São Paulo ao cantar o regresso à pátria:
Minha
terra tem Palmares
onde gorjeia o mar os passarinhos daqui não cantam como os de lá Minha terra tem mais rosas E quase que mais amores minha terra tem mais ouro minha terra tem mais terra Quero terra amor e rosas Eu quero tudo de lá Não permita Deus que eu morra sem que volte para lá Não permita Deus que eu morra sem que volte para São Paulo sem que veja a rua 15 E o progresso de São Paulo |
Murilo
Mendes descreve o cotidiano num esquema nostálgico e o efeito poético
de distanciamento do modelo. Obtém a
reverência (irônica) à matriz da saudade nacional:
Minha
terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam gaturamos de Veneza Eu morro sufocado em terra estrangeira. Nossas flores são mais bonitas nossas frutas mais gostosas mas custam cem mil réis a dúzia. Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade e ouvir um sabiá com certidão de idade! |
Jô
Soares, humorista, não resistiu à
melodia da canção e, virando-a pelo avesso, encheu a sua resistente
ossatura com a carne generosa de uma política de regalias e privilégios:
Minha
Dinda tem
cascatas onde canta o curió. Não permita Deus que eu tenha de voltar pra Maceió. Minha Dinda tem coqueiros da ilha de Marajó. As aves, aqui, gorjeiam não fazem cocoricó. |
José
Paulo Paes, num estilo de sintetismo anti-discursivo das
vanguardas modernistas, fez da canção o resumo, em pílula,
facilitando-lhe o instantâneo e despojando-a de acessórios:
Lá?
Ah!
Sabiá...
Papá... Maná... Sofá... Sinhá...
Cá?
Bah! |
Caulos,
outro humorista, também dos bons, fez o sabiá migrar dos versos
saudosistas para a denúncia ecológica, no grafismo leve e tocante
do exílio de sua própria palmeira:
E
é essa palmeira, que já não há, que ressuscita em uma das mais
lindas canções da música popular brasileira, de Tom Jobim e Chico
Buarque, trocando agora o sabiá histórico pela sabiá amada:
Vou
voltar, sei que ainda
Vou, vou voltar para o meu lugar Foi lá e ainda é lá Que eu hei de ouvir cantar Uma sabiá Cantar, uma sabiá. |
E,
como diz Clarice Lispector, "o outro do outro sou eu".
Exílio!
Vários estudiosos, cada um à sua maneira, escreveram sua própria
"canção do exílio".
Desafiei meus alunos a também fazerem sua paródia.
Parabenizo os mesmos, pois várias das composições foram muito bem elaboradas,
dentre as quais, destaco a produção a seguir (autorizada para a postagem no blog):
A
Nova Canção do Exílio
Eline Mayumi Grossklaus
Eline Mayumi Grossklaus
Minha Terra tem matanças
E haviam sabiás...
Das aves que aqui habitam
Já não ouço o gorjear.
Nosso ar não é tão puro,
Nossas flores se enfraquecem.
Poucos bosques, pouca vida...
Onde, um dia, houve o amor.
Ao olhar o céu à noite,
Já não tenho mais prazer:
“Minha terra tem matanças
E haviam sabiás!”
Minha terra tem violência.
Segurança? Pouco há...
Minha casa é meu abrigo
Onde paro pra pensar:
Minha terra tem matanças,
Roubos, abusos, corruptos...
Não
permita Deus que eu morra
Sem ver isso terminar...
Quero minha paz de volta
E segurança no meu lar.
Um dia, habitará nos corações
O amor que só em Deus há...
Sem ver isso terminar...
Quero minha paz de volta
E segurança no meu lar.
Um dia, habitará nos corações
O amor que só em Deus há...
A
Verdadeira Face do Brasil
Thamarys
de Almeida Severiano
Minha
terra tem poluição,
Onde
não se vê o sabiá.
Várias
indústrias que aqui estão
Poluem
o nosso ar.
Já
não se vê mais as estrelas.
Nossas
várzeas estão cheias de lixo.
Nossos
bosques, abandonados.
Nossas
vidas, com corruptos.
Em
cismar sozinha à noite
Desprazeres
encontro eu cá
Em
minha terra tem corruptos
E
o dinheiro fala mais alto.
Minha
terra tem pobrezas muitas
Que
tais sempre encontro eu cá
Em
cismar sozinha à noite:
“Que
prazer há em roubar?”
Em
minha terra tem ladrões
E
votamos pra continuar...
Não
permita Deus que eu morra,
Sem
que o médico atenda...
Sem
que eu também desfrute
Do
que os impostos podem proporcionar.
Sem
que, antes, aproveite do dinheiro
Que,
com certeza, irão pegar.
E
veja tudo isso mudar...
Sozinha
à noite
Larissa
Fantim Machado
Minha
terra tem impostos
Que
não vejo aproveitar
Aqueles
que usufruem
Deixam-nos
a desejar
Nosso
dinheiro já não sobra
Nosso
trabalho é dobrado
Nosso
cansaço aumentado
E
nossa alegria destruída
Em
cismar, sozinha, à noite
Mais
sufoco em meu pensar
Preciso
achar serviços extras
Pra
mais impostos pagar
Minha
terra tem roubos
E
quem começa a roubar
Ao
cismar, sozinha, à noite
Mais
tristeza me dá
Minha
terra também tem
Quem
me rouba pra se drogar
Não
vou me permitir morrer
Sem
que eu faça algo pra mudar
Nem
que eu mude os meus conceitos
E
os políticos em quem vou votar
Creio
que, ao mudar os meus votos,
Outra
vida haverá !!!
Meu
carro e seus primores
Vanderlei
Souza Luciano
O
meu carro é uma caieira
E
não quer ligar...
As
ferrugens que o consomem
Não
tenho como consertar.
Vosso
carro é tão bonito,
Vosso
motor tem mais potência,
Vosso
carro tem mais cor,
Vosso
estilo... mais primores.
A
empurrar sozinho à noite,
Mais
desespero sinto eu cá.
O
meu carro é uma caieira
Que
não quer ligar...
Vosso
carro tem primores!
E
o meu não quer ligar...
A
empurrar sozinho à noite,
Sem
ter com quem contar...
O
meu carro é uma caieira
Que
não consegue funcionar.
Não
permita Deus que eu morra,
Antes
que este carro eu possa trocar
E
que os primores de um carro novo
Eu
possa desfrutar...
Sem
que desta caieira
Eu
possa me livrar.
Gostou? Comente.
Parabéns pela iniciativa de complementar os estudos de seus alunos pelo blog. Nos dias atuais, aliar-se às opções tecnológicas pode ser uma boa maneira de conseguir despertar o gosto pelo saber. Suas postagens saõ bem elaboradas e, pelo que percebi, o blog terá muito a contribuir com a questão do conhecimento de qualidade. Já salvei nos favoritos e vou acessá-lo sempre. Um abraço!
ResponderExcluirGostei dos poemas. Parabéns aos autores.
ResponderExcluirMais um pouco estarão escrevendo livros
com as críticas sociais feitas em bom estilo.
po na minha sala so tem poetas,vamos fazer um livro,kkkkkkkkk
ResponderExcluirBoooooa, 2ºF
ResponderExcluirFicoou bem legau mesmo, pena que nao tenho tanta
criatividade kkkkk
mais parabeens meus colegas :)
Nossa, que bacanas e criativos esses alunos!
ResponderExcluirSo artistas , meu rsssssssssssssss
ResponderExcluirLegal
Criticidade incrível! O último poema foi bem cômico, mas interessante também. Parabéns por direcionarem olhares diferentes a situações aparentemente comuns! Educação comprometida com mudanças sociais passa pelo despertar de consciências adormecidas, pelo alerta a fatos do cotidiano que não causam mais impacto porque muitos se assujeitam a perceber determinadas situações como se estivesse tudo bem e tudo devesse ser assim mesmo. Que pena! Nesses poemas foi possível perceber indignação e capacidade de ir além. Bom, pois precisamos de pessoas menos corruptas e mais comprometidas socialmente à frente das decisões num futuro próximo.
ResponderExcluirLegal a poesia gostei
ResponderExcluirDisse tudo em "A verdadeira face do Brasil" (última estrofe), os impostos que supostamente são investidos em educação, saúde etc. Vivemos num período de pandemia e se na saúde não tem vacina suficiente, se na educação os alunos e professores têm que se equipar com seus próprios recursos, sem ajuda alguma, onde estão esses investimentos tão propagados na mídia??? Para pensar...
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